sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Invisíveis Certezas - ansiedade e o grande dia, capítulo 4°

Bom dia, boa tarde, boa noite.
A história do Gui e da Alicia ganha mais um capítulo, sob duas visões.
Eu e a Amanda Castilho do blog 2% de você damos continuidade a esse projeto e esperamos que sintam os personagens próximos de vocês assim como eles parecem nos abraçar enquanto escrevemos.
Para ler o lado da Alicia deste capítulo, clique aqui.
Entre nessa aba para ter acesso as capítulos anteriores em ambas as versões.


Num primeiro momento não consegui acreditar. Talvez fosse alguma brincadeira de Alícia, ou uma amiga tivesse pego seu celular e me enviado a mensagem dos sonhos. Ela demorou um tempo até me convencer de que era real: sua turma iria realmente vir à São Paulo para uma visita á alguns museus, dentro de um mês. 

Nos dias que se seguiram a essa noticia eu não deixei de pensar no momento em que veria de perto seus olhos dourados e profundos. Passava meu tempo imaginando como seria seu cheiro. Algo como livros na prateleira, xampu de flocos e caneta de morango, se é que isso existe. 
Nunca me senti tão profundamente interessado em alguém, e tinha medo de que pudesse ser um instinto meio louco, daqueles que todo mundo fala de que as pessoas se interessam mais quando alguma coisa é mais difícil. No meu caso, morarmos longe um do outro. Eu não queria magoá-la de maneira nenhuma, mas sabia que era verdadeiro o que eu sentia. Estava apenas super inseguro. Talvez com relação a ela ser a garota mais incrível que existe e eu apenas mais um dos muitos que existem em São Paulo, e isso sem falar no mundo. 

Me sentia culpado por não ter nascido na terrinha que ela tinha me descrito com tanto amor e admiração. Todas aquelas serras, rios e cachoeiras. Sem falar na comida.  Me lembro de ter sorrido na primeira vez que ouvi sua voz carregada do sotaque de Minas. Devo dizer que, pela convivência, peguei-me dizendo "uai" em mais de um momento. Seria mais fácil se morássemos perto, entretanto não poderia afirmar que aconteceria algo entre nós. Na verdade, acredito em destino e vontade de Deus. Os 290 quilômetros que nos separam devem ter algum propósito. 


Eu e Alicia agora conversávamos por vídeo quando os estudos nos permitiam, e o trabalho dela no pesqueiro não era tanto - pelo que pude entender, era um estabelecimento familiar que, na região do sul de Minas, é até bem comum. Vê-la com um rabo de cavalo frouxo , aquele sorriso de canto de boca todo dela, e uma camiseta velha dos Los Hermanos foi tortura. Me fez ter tanta vontade de abraçá-la que chegou a doer. Nosso principal assunto era sobre a viagem e como nos encontraríamos. Seu professor de português - que estava organizando os pontos em que iriam parar e outros detalhes - não lhe dava muitas informações. Eu não queria que desse nada errado no dia, mas pelo que estava vendo, teria de me preparar para qualquer coisa. 

Faltavam duas semanas para que ela viesse e eu tentava manter minha cabeça distraída. Apesar de passar alguma parte do tempo nas aulas de canto e de natação, eu não tinha muita escolha: era o último ano do colegial e se eu quisesse fazer faculdade ano que vem teria que estudar. Não é fácil conciliar a pressão de seu pai para seguir seu  caminho na Contabilidade com a vontade de cursar Direito. Eu mudava de assunto quando ele começava com esse papo de vestibular e sobre eu assumir a empresa da família. Não queria brigar, e nem parecer um jovem rebelde sem causa que jogaria tudo para o alto com suas fantasias malucas. Na hora certa ele entenderia.  E Alicia me ajudava bastante, também. Dizia que o futuro se moldaria de acordo com as minhas escolhas no presente, mas que eu não devia me martirizar caso tomasse um caminho errado vez ou outra. É assim que a gente aprende a ser gente de verdade.

Quanto à ela, pelo que entendi, era fascinada por números e queria cursar uma Engenharia. Ainda assim, não via sua vida sem as palavras e escritos. Citei para ela um trecho de um dos meus livros preferidos: "As palavras são, na minha nada humilde opinião, nossa inesgotável fonte de magia". Ela tinha um blog, e qual foi minha surpresa quando o acessei certa tarde e tinha um texto sobre mim - ou pelo menos parecia.

Na véspera da viagem, eu e Alicia combinamos de nos falar a noite, e assim fizemos. Ela me disse que o ônibus que os trariam para cá sairia de São Lourenço às 5 da manhã e faria sua primeira parada, às 9:30, se o trânsito colaborasse, no Shopping Center Norte. 


Eu não dormi nessa noite, e o pensamento que me veio à mente foi a madrugada em que nos falamos pela primeira vez, pelo Twitter. Aquela insônia abençoada que me trouxe a mineirinha mais encantadora do mundo. 


O quinto capítulo de Invisíveis Certezas já foi postado!
Clique aqui e confira!




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